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DESMISTIFICANDO AS DIFICULDADES DE APRENDIZADO

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As dificuldades de aprendizagem comumente aparecem no contexto escolar em que há uma expectativa de desenvolvimento acadêmico que, caso não seja realizada , evidencia as dificuldades e deficiências do aluno. A escola inicialmente se propõe a ensinar este aluno e no decorrer do processo envolve os pais, sugerindo, na maioria das vezes, que questões sejam levadas a pediatras, ou a neurologistas, para que se inicie um processo de avaliação da dificuldade presente no aluno em questão


Segundo Hubner & Marinotti (2004), no contexto educacional e familiar, as dificuldades de aprendizagem tendem a ser atribuídas às próprias crianças ou ao adolescente. O aluno não consegue acompanhar a escola e por isso precisa de ajuda. Com isso, dificuldades para ler, escrever, calcular ou manter a atenção nas atividades são interpretadas de acordo com a inadequação de cada um à proposta escolar. As crianças e os adolescentes que apresentam tais dificuldades são, muitas vezes, considerados preguiçosos e incapazes, sendo até punidos por meio de reprovações, castigos e críticas. (Hubner & Marinotti, 2004; Regra, 2004)


Entende-se que problemas inerentes ao nosso próprio sistema de ensino também podem influenciar a manutenção desse padrão de interação e no estabelecimento das dificuldades de aprendizagem da criança e do adolescente. A tradição de ensino no Brasil enfatiza no ensino dos conteúdos e não nas habilidades indispensáveis para a aquisição dos mesmos. É sabido que para um bom desempenho escolar, os estudantes dependem da aquisição de certos pré-requisitos educacionais (habilidades socioemocionais) como: a aceitação de frustrações e o estabelecimento de um repertório de seguir regras (Regra, 2004; Zins, Weissberg & Walberg, 2004). Crianças que não aprendem essas habilidades podem estar fadadas a falhar no sistema educacional, mesmo que não estejam submetidas a condições orgânicas que dificultem a aprendizagem (Cornwell, Mustard, & Van Parys, 2013).


Alunos com dificuldade de aprendizagem podem se beneficiar quando pais, educadores e profissionais de saúde participam ativamente desse processo de avaliação e intervenção. Uma proposta de trabalho que se restringe ao consultório do psicólogo ou do pedagogo reitera a noção de que o indivíduo “é portador” de uma dificuldade, e exclui a importância do ambiente no qual essa dificuldade se apresenta para o tratamento. É necessário avaliar como o ambiente social da criança influencia os comportamentos acadêmicos, os estímulos públicos e privados referentes à aprendizagem, as interações da criança com professores e família, e a maneira que as dificuldades provenientes de condições orgânicas específicas se apresentam nesse ambiente (Feitosa, del Prette & Matos, 2006). É na intersecção dessas características que a dificuldade de aprendizagem deve ser avaliada e trabalhada


É importante realçar que a criança com dificuldade de aprendizagem muitas vezes não entende a própria condição, e acaba sofrendo com baixa autoestima e falta de motivação para a vida acadêmica. Infelizmente as facilidades desses alunos não são valorizadas. As habilidades já existentes são as principais ferramentas para auxiliar no aprendizado.

A mudança de perspectiva sobre a dificuldade de aprendizado pode fazer grande diferença na vida dessas crianças e adolescentes. Acreditar nas potencialidades, e aceitar a dificuldade como uma maneira particular de aprender são os primeiros passos para uma intervenção de sucesso.

Por Letícia Lyle, e Thais Guimarães


Referências

Cornwell, C., Mustard, D. B., & Van Parys, J. (2013). Noncognitive Skills and the Gender Disparities in Test Scores and Teacher Assessments: Evidence from Primary School. Journal of Human Resources, 48(1), 236-264.

Feitosa, F. B., Matos, M. D., & Del Prette, Z. A. P. (2006). Definição e avaliação das dificuldades de aprendizagem (I): Os impasses na operacionalização dos distúrbios de aprendizagem. Revista de Educação Especial e Reabilitação, 4(13), 33-46.

Hubner, M. M. & Marinotti, M. (2004). Revisitando diagnósticos clássicos relativos às dificuldades de aprendizagem. Em M. M. C Hübner & M.Marinotti (Orgs.). Análise do Comportamento para a Educação: Contribuições recentes. Santo André: ESETec Editores Associados, pp. 307-317..

Regra, J. (2004). Aprender a estudar. Em M. M. C Hübner & M.Marinotti (Orgs.). Análise do Comportamento para a Educação: Contribuições recentes. Santo André: ESETec Editores Associados, pp. 225-242.

Zins, J. E., Weissberg, R. P., & Walberg, H. I. (2004). Building Academic Success on Social and Emotional Learning.


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