Por Joanne Gouaux
“Se você ler para eles, eles vão ler”. Esta afirmação resume aquilo em que eu acreditava quando meu primeiro bebê começou a balbuciar e apontar objetos em sua estante de livros favorita. Cheia de energia e otimismo, comecei a ler para meu filho tão logo ele conseguiu manter os olhos abertos por tempo suficiente para observar as páginas de um livro, bem antes de ele começar a articular frases. Claro, isso foi antes do pré-primário, quando a realidade de aprender a ler batia de frente com minha fantasiosa perspectiva do que muitos pregam como a “mágica da leitura”.
O pré-primário e o encanto em aprender a ler passaram rapidamente. Não foi assim tão mágico – foi de deixar pasma. Sim, estávamos surpresos e admirados, mas não do modo que tínhamos imaginado. Parecia uma piada. O verão entre o pré-primário e o ensino básico foi o início do que parecia ser uma festa de carnaval, através de estranhos shows – esquisitas salas com esquisitas luzes, especialistas com longos títulos profissionais e intermináveis travessuras. Foi uma loucura. Nosso filho nos levou a uma confusão de experiências que mais se assemelhavam a um corredor de espelhos, com reflexos distorcidos de nós mesmos e passagens desconcertantes que davam em pessoas que nos olhavam e sorriam sem a menor ideia de como ajudar. Embarcar na aventura de ajudar nosso filho a descobrir seu caminho da leitura foi alucinante.
Nosso filho mais velho tem uma personalidade calma e despreocupada, é independente, acha graça em tudo e zomba da “seriedade” das coisas mais rotineiras. Ele é curioso sobre tudo, imaginativo, e gosta de ser o palhaço da família, no melhor sentido do termo. É um brincalhão prático, com uma sensível consciência das emoções dos outros. Vive rindo, e adora fazer as pessoas sorrirem. Seu irmão mais jovem é muito mais sério e socialmente reservado, até o momento presente. Além das duas lindas crianças, o pai deles e eu também compartilhamos outra pérola genética – temos pais disléxicos. Nascidos separados por uma geração e em lados opostos do país, tanto minha mãe quanto o pai dele experimentaram tratamentos degradantes, como resultado da incapacidade de aprender a ler fluentemente em seus primeiros anos de escola.
O pai deles e eu somos os filhos mais velhos de pais que acreditavam firmemente na filosofia do “sem dor, sem ganho”, e na necessidade do trabalho duro sem atalhos. Ambos nos saímos muito bem em esportes individuais, como natação e corrida à distância, isto é, sabíamos como nos empenhar e superar dificuldades e desconfortos, aceitando as lutas e contratempos como partes normais da vida.
Eu era uma “boa aluna” que “dava duro”, enquanto meu marido era descrito por sua mãe e professores do ensino básico como “nunca trabalhou todo seu potencial”. Esta afirmação, em particular, diz mais a um orientador escolar normalmente usado por professores e cheio de expectativas por parte dos pais, do que diz sobre o verdadeiro potencial de uma criança. Isso também prepara o palco para uma correção de histórias errôneas que abastecem o mal-entendido das incapacidades de aprendizado.
Por trás das pesadas cortinas de qualquer peça de carnaval há um lugar onde os truques dos mágicos são revelados. Truques distraem o público quando ele acredita na ilusão de que tudo é exatamente como parece. Anedotas populares são como truques que dão a ilusão de controle pelos bem-intencionados adultos. Na verdade, a maioria das anedotas são obstáculos para a intervenção precoce e advocacia dos pais: • A prática leva à perfeição. Tentar, tentar e falhar a despeito de inúmeras tentativas é doloroso e pode ser infrutífero sem adequadas intervenções e apoio do sistema. • Sem dor, sem ganho. Pedir ou dizer a uma criança inteligente, que está se esforçando em ler, para “se esforçar mais” é contraproducente e causa intensa ansiedade e estresse que minam seu autoconceito, prejudica a confiança e leva a um desnecessário sofrimento de todos. • Trabalho duro sempre vinga. Trabalhar mais duro e por mais tempo do que qualquer um na sala de aula é exaustivo e humilhante, especialmente quando não é o modo mais eficiente de aprender. • Ele/Ela só precisa de mais tempo. Crianças com deficiência de aprendizado só se tornam alunos independentes quando seus latentes desafios são adequadamente dirigidos. Nada mudará sem apropriada identificação e apoio.
Nosso próprio filho ouviu degradantes declarações de um professor que se referia a ele como inteligente, mas preguiçoso, e tomou dele recreio e tempo livre como punição por não completar tarefas escritas. Outros professores disseram que ele só precisava de mais tempo para crescer e sugeriram que repetisse o ano. Ambos, nosso filho e seus avós foram identificados como disléxicos, mas só com a ajuda de um promotor. Promotores não se limitam a pais. Podem ser professores, membros da família ou qualquer um com uma significativa ligação com uma criança ou adulto. Professores e pais desempenham um papel único ao ajudar a identificar deficiências de aprendizado. A identificação requer um esforço por parte de ambas as partes de modo a buscar as causas das dificuldades de uma criança e trabalhar com ela de modo a encontrar estratégias e soluções para seu sucesso. Uma analogia da interdependência desse relacionamento é a de duas pessoas em um barco a remo: o professor e a criança, ou o pai e a criança. Cada um tem seu próprio remo e eles devem remar para levar o barco à frente. Se apenas um remar, o barco vai andar em círculos e não vai a lugar algum. Dizer à criança para remar mais forte é equivalente a dizer “tente mais e mais”, e isso só faz o barco circular mais rapidamente. Devemos respeitar o esforço da criança, festejar seus pequenos sucessos, e encorajá-la a seguir em frente enquanto pegamos nosso próprio remo, entrando no ritmo do andamento natural da criança. Crianças que recebem ajuda em sua deficiência de aprendizado, aprendem a trabalhar de maneira mais inteligente, não mais dura. Olhando à frente, eles podem desenvolver a habilidade de advogar em causa própria. Essas habilidades são para a vida toda. Como pais, temos uma oportunidade única de observar a luta de nossas crianças, e validar sua experiência ao reconhecer seus esforços, permitindo-lhes confiar em seus próprios instintos e em nós.
Eu gostaria de compartilhar uma mensagem com meus colegas pais: não permitam que histórias bem-intencionadas de nosso passado, de outros pais, de professores ou de administradores subestimem ou menosprezem as experiências de seu filho, ou plantem dúvidas em sua própria capacidade como pai/mãe. Toda criança precisa de ajuda adicional ao ter acesso a recursos corretos, mas a ajuda existe, mesmo se for difícil encontrá-la no início. Crianças merecem um começo de vida justo, e de alguém para segurar sua mão através do carnaval de inesperadas esquisitices. Com alguma sorte, vocês podes até sair da “casa de diversões” rindo das ridículas experiências, sempre percebendo que nenhum de vocês jamais foi subjugado, em primeiro lugar, mas que se perderam um pouco, e que precisavam de uma luz e um mapa para viajar pela estrada menos acessada.
Joanne Gouaux descobriu o Fast ForWord após seu filho de 7 anos, Carter, ter sido diagnosticado com dislexia. Nós compartilharemos o histórico acadêmico de Carter em um futuro artigo.
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